Um vinte de novembro para ser comemorado
Como forma de prestar uma homenagem às entidades que marcam a data de hoje como Dia da Consciência Negra, o Editorial do jornal FOLHA do SUL cede espaço ao ativista dos movimentos afro-descendentes de Bagé, César Jacinto.
O ano de 2012 poderia ser um ano qualquer para os milhões de brasileiros. Mas, especificamente, este ano marcou um fato importante: finalmente a Suprema Corte Brasileira definiu que as cotas com recorte racial para ingressar nas universidades públicas brasileiras são constitucionais, O STF reconheceu que o sistema adotado por dezenas de universidades públicas brasileiras tem cumprido o objetivo de diminuir as desigualdades entre negros e brancos e pesquisas comprovam que os alunos cotistas tiveram desempenho igual ou superior. Aos não cotistas, esta pesquisa referendou a decisão acima citada.
Não é normal ver sempre a mesma cena nas universidades, ou seja, a não presença da população negra nos bancos universitários é algo tão visível, que sempre chamou a atenção de governantes internacionais, que ficavam perplexos com um país com tantos negros, mas sem representação considerável na academia.
O sistema de vestibular até poucos anos, único meio de ingressar, principalmente nas universidades públicas brasileiras, tinha como critério a meritocracia, os mais preparados, os mais fortes triunfavam diante dos mais fracos. Numa sociedade injusta e desigual os mais fortes representam aqueles que tiveram oportunidades e benefícios em detrimento de outros que sempre fizeram parte do grupo dos dominados, que nem sempre é minoritário.
O Ministro Joaquim Barbosa (negro) em sua argumentação durante seu voto conseguiu estabelecer o quanto estas medidas, denominadas afirmativas, são importantes instrumentos na diminuição das desigualdades arquitetadas anos após anos num Brasil que fomentou a miséria e a pobreza de populações específicas, dentre elas a negra e a indígena. “Essas medidas visam a combater não somente manifestações flagrantes de discriminação, mas a discriminação de fato, que é absolutamente enraizada na sociedade e, de tão enraizada, as pessoas não a percebem".
Um Brasil desenvolvido se faz com políticas que possam contemplar as diferenças e atender estas especificidades. Ao contrário do que apregoa a grande mídia, as cotas vêm para tornar o país com igualdade de fato e material, com esta decisão do STF vamos dar um grande passo para tornar esta nação digna de todos os seus filhos.
César Jacinto
Membro da Coordenação Política Estadual do Movimento Negro
Pesquisador da História e Cultura Afro-brasileira
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